|
|
Parte I
O "Yoga Moderno" e o Neo-Hinduísmo
Neo-Hinduísmo:
Movimento nacional indiano que procura integrar os valores ocidentais e
dar a conhecer ao Ocidente o saber indiano, e que atingiu o seu auge com a
visita de Vivekananda (1863-1902) em 1893 ao Parlamento das Religiões de
Chicago.
De acordo com vários autores, foi a partir dessa data e do modo como
Vivekananda apresentou o Yoga ao público ocidental e, mais tarde, o veio
a re-apresentar na Índia, que este sistema de práticas e de ideias
ancestrais se veio alterar.
Vivekananda procurou encorajar o público ocidental, não a renunciar à
sua vida quotidiana e aos seus deveres enquanto cidadãos produtivos e
úteis à sociedade, mas sim a reformular as suas atitudes face à vida e
os seus conceitos do "eu", através do incentivo à prática de
Yoga. Encorajou o público ocidental a seguir uma conduta ética e moral
exemplar, em orientar as suas vidas para o serviço da humanidade e em
praticar o bem. Incentivou a prática do Yoga como forma, não de combater
o espírito materialista das sociedades modernas ocidentais, mas sim de
lidar com ele, procurando desenvolver a consciência moral dos
indivíduos.
O Yoga surge então como técnica para atingir esses objectivos. Sublinhou
que o Yoga não é apenas uma teoria, mas também uma técnica corporal, e
que por isso o conhecimento experimental da prática é absolutamente
necessário. Ideia do Yoga como um "conhecimento corporalizado".
Desenvolveu um esquema classificatório do Yoga especificamente para
consumo das classes médias (classes que considerava serem as mais
equilibradas e, por isso, aquelas que mais benefícios traziam ao mundo)
de língua inglesa.
Dividiu o Yoga em 4 partes: Bhakti Yoga (enfatizando a importância do
amor) Karma Yoga (enfatizando a importância do trabalho) Raja Yoga
(enfatizando a importância do auto-controlo) Jnana Yoga (enfatizando a
importância do conhecimento).
Vivekananda passou assim a dar uma nova orientação ao Yoga, e que se
pode caracterizar essencialmente da seguinte forma: A renúncia à vida
terrena passou a ser apenas uma das muitas formas de atingir a
libertação e a salvação. Vivekananda não procurava que o praticante
abandonasse a vida através do Yoga, mas sim que encontrasse uma forma de
lidar com a modernidade sem sucumbir ao excesso materialista.
É esta a mudança introduzida por Vivekananda: de uma prática ascética
tradicional de renúncia à sociedade em ordem a atingir a iluminação, o
Yoga passou a ser uma prática participativa na sociedade. O esquema
classificatório do Yoga apresentado por Vivekananda passou a ser visto
por muitos no Ocidente como o verdadeiro Yoga, independentemente de todos
os outros tipos de Yoga existentes.
Após mais de cem anos da 'missão' de Vivekananda ao Ocidente, e do
seguimento que lhe foi dado pelos seus discípulos, pode falar-se hoje de
uma mercantilização do Yoga no Ocidente, isto é, de uma associação do
Yoga não apenas a valores espirituais, mas também e cada vez mais a
valores económicos.
O Yoga passou a ser tratado como uma mercadoria de troca numa sociedade
essencialmente capitalista. Para isso contribuiu:
- a exportação de gurus da Índia para o Ocidente (EUA e Europa) e a
consequente criação de grandes organizações espirituais e centros de
prática de Yoga;
- a formação de numerosos instrutores de Yoga ocidentais, através de
'gurus ocidentais' e não de 'gurus indianos';
- o desenvolvimento de métodos de propaganda da ideologia e prática
yoguica, através da imprensa, dos media audio-visuais, etc.
- todas as consequências das sociedades ditas 'modernas', nomeadamente, o
aumento do consumismo; o enfraquecimento do papel do sagrado na vida dos
indivíduos; o aumento dos riscos e das ameaças sociais derivado do
'ambiente criado', tais como o descontrolo da cadeia alimentar, a
catástrofe ecológica, o perigo da guerra nuclear, etc.; a
consciencialização por parte dos indivíduos desses mesmos riscos e o
consequente interesse pelo, e necessidade de, bem-estar físico e
psicológico.
(continua)
(Compre
aqui a Revista Mon para ler este artigo na totalidade)
|